É numa madrugada de sábado para domingo que estou acompanhada pela Insónia. Talvez aquele café tivesse sido tomado demasiado tarde, ou talvez esteja a tornar-me notívaga como o meu gato que está acordado, a observar-me enquanto escrevo às 2h e 10m da manhã.
É a estas horas, em que uma pessoa tenta encontrar a posição ideal para dormir, sem ter demasiado frio ou demasiado calor, sem entortar demasiado a coluna para depois não acordar com dores no corpo todo, que se reflete sobre determinadas coisas da vida.
Há quem se lembre de perguntar ao google se os pinguins têm joelhos e há quem comece a pensar na complexidade das relações humanas e como estas se desenvolvem ao longo do tempo. Eu sou estes dois tipos de pessoas, consoante a maré, mas hoje deu-me para o lado sociológico.
As relações entre humanos são, obviamente, todas elas complexas de um modo geral. Dois seres sencientes, com pensamentos e sentimentos próprios são, só por si, dotados de uma profundidade imensa, o que leva a que as interações sociais entre os mesmos nunca sejam simplesmente unidimensionais. No entanto, acho que a própria sociedade faz com que determinadas relações sejam mais ou menos complexas. Obviamente que não podemos comparar relações entre familiares com relações entre amigos, ou com colegas de trabalho ou muito menos com relações de teor romântico. Não foi sobre isso que comecei a refletir na cama, às 2h da manhã.
As relações entre mulheres e homens. Foi sobre isso que comecei a refletir. As que não são românticas, quero dizer. Sim, porque o que tenho observado na sociedade (pelo menos na portuguesa), é que é difícil considerar que um homem e uma mulher possam ser apenas amigos. Vejo isto desde os tempos de escola e continuo a ver agora.
Não me interpretem mal, eu não estou a criticar a sociedade por acreditar na possibilidade de um homem e uma mulher passarem tempo juntos porque se sentem sexualmente atraídos um pelo outro, apesar desta ser uma visão extremamente influenciada pela heteronormatividade ainda tão presente nos dias de hoje. Na verdade, o que para mim torna as relações não-românticas e não-sexuais entre pessoas do sexo oposto (cuja orientação sexual abrange, de facto, o sexo oposto) complexas, é mesmo o facto de, em vários casos, uma das pessoas ter realmente algum tipo de atração sexual ou romântica pela outra. Muitas vezes é o homem que, apesar de gostar da mulher, respeita o facto desta não sentir o mesmo e valoriza-a o suficiente para se contentar com uma amizade. Muitas vezes é a mulher que gosta do homem para além da amizade, mas não o admite pela possibilidade de vir a ser rejeitada, ou por outro motivo qualquer. Mesmo que estes sentimentos sejam só fases durante as respetivas amizades.
Não sei onde quero chegar com isto, mas acredito que "os homens são de marte, as mulheres são de vénus" e existem vários factores sociais que complicam o que é, na verdade, simples.
PS: A não perder, na próxima madrugada em que estiver com a Insónia, o meu próximo ensaio: "O homoeroticismo presente em várias amizades entre pessoas do mesmo sexo".