Ultimamente sinto que estou sempre a correr contra o tempo. Sempre a tentar ganhar a corrida, sem descansar. Corrida essa que só é disputada por mim e mais ninguém, para que fique claro. Talvez seja fruto da peculiaridade deste ano, com o seu período de quarentena pela qual a maior parte do mundo passou (ou passa, ainda). Talvez seja um sentimento de desperdício, ou até culpa, que vem desde aí.
"Devia ter feito mais", cheguei a pensar, com a noção do quão exigente consigo ser comigo mesma e acredito que não terei sido a única a ter esta linha de pensamento. Isto faz com que surja uma combinação alarmante de expressões como "tenho de", "e se" e "porquê?" na minha cabeça que faz com que sinta que não estou a aproveitar cada momento como devia. Porque o tempo acaba para todos, e por acabar sinto que tenho de correr, correr e correr mais para chegar onde quero enquanto posso. Para poder sentir tudo o que quero sentir, fazer tudo o que quero fazer, como uma fome e uma sede constante de viver e experienciar a vida. Uma paixão enorme pelo sentir.
O pior é querer experienciar coisas nunca experienciadas, mas ter medo de as experienciar (porque o medo do desconhecido é uma doença), o que cria uma sensação de estagnação na "corrida" e acaba por me fazer sentir que tenho de correr ainda mais depressa. O pior é achar que não posso fazer uma pausa para descansar porque o tempo não pára, e isso parece que não, mas às vezes cansa. Às vezes parece que estou num comboio em andamento que percorre uma linha sem paragens. Mas o que é o tempo senão isso mesmo? Para nós, meros mortais.
"Depressa e bem, há pouco quem", digo a mim mesma. E a tartaruga chegou primeiro do que a lebre.